A política de cotas e a busca de um modelo de ensino público para os próximos anos

Por Christopher Rodrigues (*)
A presidenta Dilma Rousseff sancionou a LEI Nº 12.711 que garante cotas sociais e raciais nas instituições federais de ensino em todo o Brasil. Do total de vagas, 50% estarão à espera de  estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas e cujas famílias tenham renda per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio. Essas vagas deverão ser preenchidas por autodeclarados negros, pardos e indígenas de acordo com a proporção dessas populações em cada Estado, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Dilma vetou apenas um artigo do projeto aprovado pelo Senado no início de agosto, com o intuito de manter o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como principal meio de acesso à universidade.
A adoção do sistema de cotas entre os critérios de seleção constitui o início de um caminho para democratizar o acesso à universidade e irá reduzir a assimetria social que lamentavelmente caracteriza o nosso país.
Alguns setores da direita se posicionam contrários à política de cotas sob a justificativa de que a capacidade dos cotistas está sendo subestimada. Afirmam ainda que todos os alunos devem ser tratados de maneira igual para que a qualidade do ensino superior seja mantida.
Um estudante de escola pública não consegue competir em iguais condições com aquele que passou a vida inteira gozando das melhores instalações e do modelo de aprendizado oferecidos pelo ensino particular. As cotas sociais e raciais são uma espécie de discriminação positiva dos diferentes grupos étnicos para tornar o ensino público superior mais acessível nos próximos anos.
Entretanto, o sistema de cotas deve ser apenas uma medida emergencial e paliativa. O desejável para o longo prazo é uma educação de qualidade que seja pública, gratuita e universal. A desigualdade social precisa ser cortada pela raiz e o tratamento igualitário, no âmbito escolar, deve ter início durante a fase infantil.
É fundamental, também, que os governos invistam pesado em todos os níveis do ensino público brasileiro.
A desigualdade entre os níveis do ensino é percebida claramente pelos números da edição de 2011 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) no dia 14 de agosto de 2012. Enquanto os anos iniciais do ensino fundamental tiveram um avanço de 0,4 ponto em relação à edição de 2009, as demais etapas do ensino básico avançaram apenas 0,1 ponto cada uma.
A educação básica melhorou ligeiramente, mas o desafio pela equalização de suas etapas ainda continua intenso. E para resolver essa lacuna o MEC propõe uma reforma do ensino médio. O ministério tem o plano de extinguir disciplinas consideradas fundamentais e juntá-las em áreas genéricas e multidisciplinares para que os alunos assimilem o conhecimento com mais facilidade. Entretanto, o professor que é especializado na área da física, por exemplo, não terá condições de ensinar as demais matérias correlatas. E claro, como ficará os alunos sem uma formação robusta em português e matemática?
O modelo tradicional, na minha concepção, deve ser mantido porque os problemas da educação básica brasileira estão relacionados às condições precárias que as escolas públicas estão submetidas e à falta de incentivo para a implantação do ensino integral. Com a criança e o adolescente estando mais tempo na escola o desempenho escolar terá uma forte evolução e os índices educacionais brasileiros poderão atingir, em uma questão de tempo, os patamares observados em países desenvolvidos.
A política de cotas no curto prazo e a busca de um modelo de ensino público inclusivo, irrestrito e universal para os próximos anos são indispensáveis para o desenvolvimento brasileiro. Com o investimento em educação o impacto positivo em diversas outras áreas será enorme.
A cobrança dos movimentos sociais e da população como um todo não pode parar. A participação de todos nas políticas desenvolvimentistas é necessária para que o país saia de vez do atraso e da subalternidade de certos grupos econômicos.
(*) Estuda economia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).  

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