O principal modo de fortalecer os veículos de esquerda é a própria esquerda passar a participar com mais intensidade nos veículos de esquerda. Basta de Folha, Veja, Globo e Estadão!



Fala-se muito no Brasil da necessidade de uma frente ampla de esquerda com o objetivo de reconquistar a população e derrotar a articulação golpista que paira sobre os direitos sociais. O que não deixa a menor dúvida é que a esquerda brasileira precisa se fortalecer para a luta efetiva contra as ameaças de retrocesso. O aprofundamento do golpe precisa ser impedido e as conquistas da Constituição, mantidas.

A esperança de boa parte da esquerda para derrotar o golpe se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Chegaram a dizer que o ex-presidente estava fragilizado e o seu capital político, reduzido. Uma esquizofrenia completa de quem não conhece e nunca teve contato com a realidade brasileira. Apesar de todo o ataque midiático, Lula lidera as principais pesquisas de intenção de voto. A força eleitoral do provável candidato em 2018 pode ser explicada, a meu ver, por cinco motivos centrais: 1) Impopularidade do governo de Michel Temer; 2) Boas lembranças da população brasileira em relação aos dois primeiros governos petistas (2003-2010); 3) Notoriedade na grande mídia que, paradoxalmente, contribui de certa maneira para o segundo motivo; 4) Capilaridade do Partido dos Trabalhadores no âmbito sindical e apoio de grande parte dos movimentos sociais, entidades estudantis, alguns setores da Igreja Católica, etc.; 5) Habilidade política incomensurável do ex-presidente que sabe tirar proveito da situação.

O povo brasileiro é mal informado, não consegue assimilar a complexidade de certos problemas e faz bastante confusão. No entanto, ele tem capacidade de compreender o que está dando certo ou errado. Durante os governos Lula e nos primeiros anos da Dilma, o país estava em uma situação econômica melhor, o que possibilitou a geração de muitos empregos e a melhoria das condições de vida dos mais pobres. Os brasileiros entenderam que o momento era bom e não caíram no papo furado dos grandes veículos de comunicação de que o PT não prestava e era corrupto. Com a situação da economia brasileira se agravando e o desemprego crescendo, a população se deu conta de que as coisas já não estavam tão legais e, portanto, a manipulação da mídia logrou bastante êxito. O impeachment de Dilma só possível porque o projeto de desenvolvimento baseado no consumismo já não era mais possível por causa do arrefecimento econômico, derivado da baixa dos preços das principais matérias-primas produzidas no Brasil. A história das pedaladas fiscais é pura conversa fiada.

A influência dos grandes órgãos de imprensa, principalmente em períodos de crise, é um problema sério que ameaça a democracia e contribui para a desinformação do público. Existem pessoas que não sabem discernir coisas muito simples e até mesmo antagônicas. Alguns amigos meus, por exemplo, cuja maioria diz que não é de esquerda nem de direita, dizem que o nazismo era uma espécie de comunismo. De fato, NAZI, o partido do nazismo, na tradução portuguesa significa Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Contudo, as pessoas fazem uma confusão histórica monstruosa, pois na prática os nazistas não compactuavam com nenhuma doutrina socialista.

O socialismo é um conjunto de ideias que defendem o bem-estar comum pela transformação absoluta da sociedade capitalista e das relações entre as classes sociais, mediante a abolição da propriedade privada. O modo de organização desse tipo de sociedade é assentado na promoção da igualdade entre os indivíduos, com base no usufruto coletivo dos meios de produção, tendo o Estado como principal agente político e econômico. Durante o regime nazista não houve nada disso, muito pelo contrário. Adolf Hitler e seus aliados tiveram o apoio total das elites capitalistas e empresas alemãs.

Diferente do que é dito por alguns sujeitos, o nazismo foi um movimento nacionalista alemão, de ultra-direita, imperialista, que pregava a superioridade da raça ariana em relação às demais etnias. Não estou querendo dizer que a União Soviética, por exemplo, era mil maravilhas e todos andavam de mãos dadas e eram felizes. A experiência dos países que formavam esse bloco se mostrou bastante desastrada e foi marcada pela repressão e perseguição da minoria. Além do mais, não me considero socialista, embora na teoria as coisas sejam muito bonitas. Considero-me um social-democrata na política e um nacional-desenvolvimentista na economia. Repudio com veemência as políticas neoliberais, tendo por referência a sociedade da península escandinava.

O importante entender é que as pessoas falam mal do comunismo sem sequer entender o seu significado. A maioria no Brasil, como também no mundo, é sempre silenciosa, porém, o que se ouve de alguns compatriotas mostra que o país precisa urgentemente instruir a sua população. A leitura de livros de história e uma boa informação são as principais armas contra o analfabetismo político.

Algumas pessoas fazem afirmações com toda a certeza do mundo e como se fossem verdades absolutas. Desse modo, a convicção político-ideológica evolui para uma coisa parecida com religiosidade ou paixão futebolística. O filósofo Millôr Fernandes dizia que quem não tem dúvida é porque está mal informado. Ele queria dizer basicamente que a arte de duvidar pode até parecer algo estranho, mas é o que de fato nos torna mais interessados em aprender. Por outro lado, quem acha que já sabe tudo tem tudo para se tornar um reles idiota. Portanto, o sectarismo quase sempre é sinal de ignorância.

A informação é um direito sagrado de todos, sendo fundamental que a esquerda a use de maneira eficaz. No entanto, o campo progressista não terá muito sucesso se insistir em informar a população através de meios de comunicação de direita, alegando que é necessário aproveitar as brechas do sistema. Um exemplo disso é alguns esquerdistas que fazem questão de escrever em jornais como a Folha ou dar entrevistas amigáveis em veículos como a Globo ou a Veja. Ingênuos, não percebem que esses espaços concedidos pela grande mídia não são nem um pouco democráticos e visam confundir o público. Até chegam a dizer que há liberdade de imprensa no Brasil, mas a confundem, na verdade, com a liberdade da grande imprensa.

A cooptação de parte da esquerda pelos jornais, revistas e canais de TV conservadores não tem como finalidade o pluralismo de ideias e contribui para a fragilização desse setor da política. O predomínio direitista e o controle de conteúdo sufocam a participação esquerdista na grande mídia, permitindo que somente o ponto de vista alinhado aos interesses da classe dominante tenha repercussão de fato. A grande saída, muito bem observada por alguns setores progressistas, é a criação de plataformas de informação próprias e melhorar as já existentes. Em outras palavras, o principal modo de fortalecer os veículos de esquerda é a própria esquerda passar a participar com mais intensidade nos veículos de esquerda. Basta de Folha, Veja, Globo e Estadão!

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