Defendida
pelos gurus do mercado como ciência moderna, o neoliberalismo
apresentou um resultado contrário ao que se esperava e frustrou a
população das nações que o aderiram. Ao invés de promover
crescimento e melhoria de vida dos menos favorecidos, os ideários da
corrente dominante dirigidos aos países em desenvolvimento
resultaram em mais pobreza e desigualdade.
No
Brasil, o programa neoliberal foi vigorosamente adotado na década de
1990, provocando uma devassa total nas contas públicas. Na época,
houve um aumento significativo da carga tributária e a dívida
pública, descontrolou-se. Por falta de projeto, o país se aventurou
nesse desatino e pagou um preço amargo.
Insatisfeitos
com os novos rumos que economia brasileira vinha tomando desde o
esgotamento do projeto de industrialização por substituição de
importações, o ex-governador do estado do Ceará, Ciro Ferreira
Gomes, e o professor da Universidade de Harvard,
Roberto Mangabeira Unger, em “O próximo passo: uma alternativa
prática ao neoliberalismo”, sugerem algumas medidas a serem
aplicadas para superar o atraso brasileiro.
Escrito
em 1996, o livro chama a atenção para a necessidade de um projeto
nacional de desenvolvimento e aponta um conjunto de medidas
alternativo à redução do papel do Estado Brasileiro na atividade
econômica. Na obra, os autores apresentam cinco diretrizes que
norteiam esta alternativa.
A
primeira diretriz diz respeito à elevação do nível de poupança,
tanto pública quanto privada, como subsídio ao investimento
produtivo. O próprio esforço para poupar e investir tornaria o país
menos dependente do investimento estrangeiro, além de criar
condições para melhor proveito do capital externo. Para implementar
este primeiro passo, é essencial controlar a dívida interna,
tributar o consumo e elevar substancialmente a receita pública.
A
segunda diretriz é a criação de parceria entre o Estado e as
empresas privadas, no sentido de promover uma coordenação
estratégica nos moldes dos países do nordeste asiático. Assentada
na industrialização, a aliança entre o poder público e a
iniciativa privada se mostrou eficaz e democrática nos países que
tiveram essa experiência e permitiu um avanço da inovação
tecnológica.
A
terceira diretriz consiste em aumentar a participação relativa do
salário na renda doméstica por meio de um investimento maciço do
Estado na área social. Ao contrário do que afirmam os economistas
ortodoxos, não é verdade que a remuneração salarial baixa seja
vantajosa para o crescimento econômico de um país.
A
quarta diretriz se refere ao investimento pesado em educação
pública que possibilite a manutenção da criança e do adolescente
na escola, bem como uma mudança radical do ensino básico
brasileiro. Em qualquer país do mundo, a educação é uma
ferramenta de inclusão social, de democratização das oportunidades
e um dos pilares do progresso econômico.
Por
fim, a quinta diretriz é promover a integração da economia
brasileira no cenário mundial, após a estabilização monetária,
de modo a aproveitar melhor as oportunidades no exterior e evitar a
subserviência ao receituário do Consenso de Washington. Na
contramão do desenvolvimento econômico, a política das
privatizações, a taxa de câmbio sobrevalorizada e os juros
galopantes demonstraram um claro conformismo à cartilha neoliberal.
Com
apenas 5 capítulos e 159 páginas, o livro “O próximo passo”
analisou a economia brasileira em meados da década de 1990 e
constatou os principais pontos de estrangulamento que a mantêm
semi-estagnada, além de comprometer o avanço do país. Tratou-se,
ainda, de um trabalho intelectual sucinto, explícito e, ao mesmo
tempo, repleto de sugestões para alavancar o desenvolvimento
brasileiro. Após a leitura deste breve texto, o leitor também é
capaz de entender com certa facilidade os maiores problemas
econômicos, políticos e sociais do Brasil.
Ciro
Gomes e Mangabeira Unger trouxeram à tona a grande razão do atraso
relativo do país numa linguagem descomplicada para o público leigo
no assunto de economia política. Os autores ressaltaram que o Brasil
não voltará a crescer de forma sustentada enquanto as autoridades
locais não formularem um novo projeto nacional e uma estratégia
desenvolvimentista que possam encarar de frente os entraves
estruturais que tornam a sociedade brasileira uma das mais desiguais
do mundo.
Por
ser uma crítica ferrenha do paradigma neoclássico e dos sermões
dos economistas ortodoxos, “O próximo passo” é uma leitura
essencial em pleno século XXI e merece um vasto apreço entre os
formuladores de política econômica no Brasil. Ao imaginar uma ideia
de um projeto de país, a obra de Ciro e Mangabeira é uma
contribuição estupenda à economia política brasileira, sendo
imensamente valiosa aos debates atuais sobre o desenvolvimento.
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