Brics: o caminho para a formação de uma nova hegemonia mundial

Por Christopher Rodrigues

Com grande impacto no crescimento do PIB mundial, os integrantes do Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – vêm se destacando pelo dinamismo de suas economias e pela adoção de um conjunto de políticas, sem os quais jamais alcançariam a qualidade de países emergentes. Um agrupamento constituído por economias que se encontram num mesmo estágio de desenvolvimento e que visam buscar em conjunto a superação de todo atraso vivenciado na história e na atualidade. Este artigo tem como objetivo comentar o exitoso desempenho desses cinco países que, até pouco tempo, não eram vistos com a mesma perspectiva.


Enquanto as economias avançadas padecem com crescimento medíocre, endividamento do setor público e aumento alarmante do desemprego, os Brics estão se destacando pelas elevadas médias de crescimento, com ampliação dos gastos públicos e maior participação no comércio internacional. No caso brasileiro, especificamente, geração de empregos, redução da desigualdade e distribuição de renda são os eventos que mais se destacam. No passado dizia-se que quando os Estados Unidos pegavam um resfriado o resto do mundo contraia pneumonia. Hoje o quadro é muito diferente.

Sem sofrer muito abalo em suas estruturas financeiras, os países do Brics mostraram rápida recuperação no período que sucedeu o apogeu da crise, fato que é justificado no posicionamento de liderança do grupo na retomada do crescimento econômico mundial. Todavia, é importante ressaltar que a emergência desses países é resultado de uma transformação histórica na estrutura da economia global e não um fenômeno meramente ocasionado pela crise econômico-financeira.

No entanto, os países do grupo emergente não estão menos vulneráveis, e tampouco imunes, à turbulência ainda vigente. A recente desaceleração de algumas dessas economias tem preocupado autoridades e economistas do mundo todo – sendo a China o centro das atenções pelo fato de ser considerada a mais promissora do conjunto de países. 

Mas, apesar das dificuldades, estudos indicam que, nas décadas seguintes, os emergentes se sairão melhores do que muitos países de economias avançadas. Para dar uma ideia da dinâmica e do ritmo de crescimento desses países, em 2003 eles respondiam por 9% do PIB mundial, e, em 2009, esse valor saltou para 14%. Em 2010, o PIB conjunto dos cinco países (incluindo a África do Sul), totalizou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial, sendo um nível consideravelmente superior ao dos EUA e União Europeia. Nos Brics estão 42% da população do planeta e 30% dos seus territórios. Estima-se que, em 2015, o PIB dos Brics chegue a 22% do PIB mundial.
Os países do Brics têm desempenhado um importante papel de liderança e influência regional, e isso possibilita a formação de uma nova hegemonia mundial em que a unipolaridade americana será substituída pela multipolarização do mundo. Entretanto, os Estados Unidos não desistem do seu sonho imperialista de dominar diversas regiões do mundo, e é muito provável que o país norte-americano será um obstáculo aos desejos expansionistas do grupo emergente.

O Brics não é um bloco econômico ou qualquer outra aliança formal, no entanto, os cinco países do grupo têm procurado formar um conjunto de relações mais complexas, e assim converter sua crescente força econômica em uma maior influência geopolítica. Esses emergentes buscam maior representatividade em órgãos internacionais, sendo os cargos da ONU, FMI e BIRD (banco mundial) os mais cobiçados. Mas percebe-se nitidamente que os Estados Unidos e os demais países do Norte não cederão facilmente seus espaços, embora estejam fragilizados política e economicamente. Por isso, os países do Brics já estão discutindo a criação de entidades próprias (como um fundo similar ao FMI), cuja intenção é viabilizar o crescimento da capacidade potencial emergente e, ao mesmo tempo, alavancar o desenvolvimento econômico e social com realização de empréstimos e  financiamento de obras públicas.

Os países do Brics têm potencial para formar um bloco econômico muito poderoso. A África do Sul como principal polo econômico no continente africano viabilizaria a expansão chinesa na região. O Brasil e a Rússia formam perfeitos fornecedores de matérias-primas: enquanto que o primeiro é dominante na soja e no minério de ferro, a última tem enormes reservas de petróleo e gás natural. A China busca o desenvolvimento do setor manufatureiro e a conquista de novos mercados, ao passo que a Índia investe pesado no aprimoramento da tecnologia de informação.

Muitos economistas são céticos em relação ao futuro do Brics. Controvérsias à parte, o mundo econômico está em constante transformação e a tendência é que os países emergentes tenham participação cada vez maior na formação do PIB mundial. O grupo Brics deve continuar e ser ampliado, pois abrir as portas para outros países em mesma situação econômica é de fundamental importância. Se os países desenvolvidos não cedem seus espaços, estão os emergentes devem criar seus próprios espaços e usá-los como estratégia para o desenvolvimento de suas respectivas regiões historicamente marginalizadas e ainda em relativo atraso. São países muito diferentes, mas se souberem unir seus esforços, em um futuro não muito distante poderão ser os novos países desenvolvidos. Daqui uns ciquenta  anos os emergentes de agora podem estabelecer uma nova ordem econômica mundial. Só espero pelo menos que as nações pobres e subdesenvolvidas de hoje sejam as novas emergentes de amanhã.

Christopher Rodrigues da Silva Vale, acadêmico do curso de ciências econômicas da Universidade Federal de São João del-Rei.

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