O trânsito no interior e a urgência de uma nova mentalidade

Por Christopher Rodrigues (*)

Uma grande aposta da equipe econômica federal para reaquecer a economia é a desoneração da indústria automobilística. A medida governamental tem sustento na preocupação com os números alarmantes de demissões ocorridas no setor desde o auge da crise externa. Além da manutenção dos empregos, o governo tenta incentivar a produção industrial e, ainda, tornar as empresas brasileiras aptas a competirem no mercado internacional.

Trânsito em São João del-Rei, interior de Minas Gerais. Foto: Jornalismo Online UFSJ.
Trânsito em São João del-Rei, interior de Minas Gerais. Foto: Jornalismo Online UFSJ.

 

O valor (mínimo) de compra  de automóveis fabricados no Brasil é muito elevado, há inclusive inúmeras campanhas na internet para a conscientização do consumidor, mas, apesar dos preços exorbitantes, eles ganham cada vez mais as ruas brasileiras.

Vivo em São João del-Rei (MG) e percebo que a tranquilidade que caracteriza o interior de Minas vai se acabando, paulatinamente. Saio às ruas e vejo mais carros do que pessoas; é inacreditável. Além disso, o barulho é infernal e a fumaça que sai dos escapamentos, incomoda. Vou para a universidade estudar todos os dias de bicicleta e sempre tenho que enfrentar um transito caótico. Tenho que disputar espaços com motos, carros e até mesmo com ônibus e caminhões em vias estreitas e ladrilhadas por pedras - típicas de uma cidade histórica como a minha. Segundo dados do Censo 2010, São João tem cerca de 85 mil habitantes e uma frota aproximada de 35 mil veículos, sendo 17.928 automóveis e 9.461 motocicletas. Diante disso, penso porque o governo ainda insiste em tentar estimular a compra de automóveis novos?

O número de veículos aumentou mais no interior do que nas grandes metrópoles. Adquirir um carro zero, sonho de consumo de muitos brasileiros, é considerado por muitos um sinônimo de progresso e melhoria de vida. No entanto, a quantidade maior de veículos em circulação no país é uma grave ameaça à saúde humana, além de causar sérios impactos ambientais.

Não sou adepto da iniciativa do governo de baixar a carga tributária de montadoras que remeteram U$ 14,6 bi ao Exterior em três anos e meio. Enquanto o transporte rodoviário é predominante, o Brasil carece de outros meios viários e apenas o investimento pesado em infraestrutura logística seria uma saída viável para reverter esse quadro. Associar transporte eficiente a qualidade de vida é possível, pois, para isso, temos alternativas mais sustentáveis como trens, barcos, ônibus e bicicletas.

Não podemos ter o nosso desejo apenas voltado para o consumo suntuoso. Precisamos também de uma nova mentalidade que priorize o meio ambiente e a saúde da humanidade.

(*) Estuda economia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

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