MAIS QUE 80 TIROS

Mulher de Evaldo se desespera em enterro de marido

Por Gabriel Gaiotto*

O assassinato de Evaldo dos Santos Rosa aconteceu no domingo, em Guardalupe na Zona norte do Rio, ele foi executado com oitenta tiros, sua morte nos deixa muito mais do que somente a triste lembrança de uma execução com oitenta tiros, ela transcende isso, ela nos deixa recados, ela trás lembranças, ela nos deixa questões. A primeira coisa que me veio à cabeça quando eu soube da história foi uma frase, “eles não viram que eu estava com a roupa da escola, mãe?” no dia 20 de junho de 2018 Marcos Vinicius um jovem de 14 anos morreu com um tiro da polícia pelas costas enquanto ele ia para a escola, um jovem, uma criança, negra e periférico, com sonhos, com futuro, com toda uma vida pela frente.

Não teve como não lembrar também do caso da Pavuna de 2015 quando um sargento do BOPE confundiu um macaco hidráulico com uma arma e matou dois homens em uma moto, mais uma vez na periferia, mais uma vez um pobre. Não há como não vir a mente o caso de outubro de 2018 quando o BOPE matou mais um pobre da periferia ao confundir uma furadeira com uma submetralhadora, essa confusão da policia se repetiu mais uma vez nesse mês foi a vez de João Vitor ter a furadeira confundida com uma arma pela polícia.

No dia 17 de setembro do ano passado Alexandre da Silva Serrano sofreu com essa confusão da polícia também, foi mais um homem negro, da periferia, pobre, morto, dessa vez por terem confundindo o guarda chuva com um fuzil, não tem como ler isso e não lembrar do Rafael Braga que foi preso por portar 0,6g de maconha e 9,3g de cocaína e assim permaneceu desde 2016 sendo solto apenas em 2018, enquanto Breno Borges com 130kg de maconha uma nove milímetros e munição para fuzil foi solto em menos de 3 meses, a diferença entre eles? Rafael é negro, pobre, catador de material reciclável, Breno é branco, rico, empresário, filho da presidente do TRE do MS.

Esses casos nos deixam perguntas, como a de por que a policia cometeu esses erros? O que levou eles a fazerem isso? Por que a polícia matou essas pessoas? O que essas pessoas tem em comum? Esses casos nos fazem lembrar de alguns dados, 9 a cada dez mortos pela polícia são negros, o fato de haverem mais negros mortos pela polícia do que homicídios dolosos em SP, o que esses dados nos revelam? Revelam que a polícia brasileira mata preto pobre para dizer que trabalha e nossa sociedade apenas aceita o fato.

O que vai acontecer no Brasil se o Moro aprova o pacote anticrime e tivermos o excludente de ilicitude para a nossa polícia? O que vai acontecer se nosso presidente por em prática seu projeto de segurança pública? O projeto Fênix que, nada mais é que dar carta branca para a polícia matar, o que acontecerá com nossa população negra? O que acontecerá com nossa população periférica? Nossa polícia é assassina de negros e não sofre punição por isso, é jugada por um tribunal do cooperativismo, o tribunal militar não condena os seus pares, os defendem, os ensinam que podem errar que não serão presos.

O que da essa liberdade a eles? O que faz a nossa polícia pensar que pode fazer tudo isso sem consequências? É o fato que nossa sociedade aceita seu racismo, aceita seu ódio ao pobre, ao periférico, essa sua forma de agir é legitimada pela nossa população, e principalmente porque nossa sociedade se baseia no ódio, todos esses casos repercutiram porque foram inocentes que a policia matou, nossa população transforma em herói o policial que mata o bandido, vivemos na sociedade do bandido bom é bandido morto, e ao ver os dados, ao ver os casos, fica claro que vemos o negro como bandido ainda na nossa sociedade. Se aprovarmos o projeto anticrime o massacre a população negra e pobre aumentará ainda mais, se for dada carta branca para a polícia nossa população negra e periférica vai morrer ainda mais, enquanto mantivermos o tribunal militar o cooperativismo vai se manter e não teremos avanços.

Após tecer tantas críticas aos nossos militares devo ressaltar que, o principal recado que isso deixa que o que precisa mudar não é apenas nossos militares, nós colocamos nas ruas como militares jovens incapacitados para cumprir determinada função, são soldados em sua maioria em início de carreira, que tem o sonho de servir a nossa pátria, temos que condenar sua ação, temos que puni-los de verdade pelo que fizeram porém, as críticas dever ser ao sistema e a nossa sociedade, pois se fosse um criminoso, hoje esses jovens seriam considerados no senso comum heróis, o problema está no fato de termos uma sociedade que aceita que pessoas se tornem heróis por matar alguém, não podemos limitar nossas críticas e nosso repúdio aos indivíduos envolvidos que seguiam apenas ordens, temos que tecer nossas críticas a todo o sistema que ensina nossos soldados a agirem dessa forma.

* É estudante de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá - UEM

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