General Mourão é “moderado”, Pinochet também era



O vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, tem sido elogiado por diversos setores, inclusive de esquerda, que o consideram um militar moderado, inteligente e não favorável à intervenção na Venezuela. Enquanto que Jair Bolsonaro é visto como cachorro louco, pertencente à ala da linha dura do governo e dos milicos, Mourão é tido como ponderado que dialoga com parlamentares, empresários, diplomatas e até com o campo progressista.

Em sua coluna no jornal O Globo, o jornalista Bernardo Mello Franco destaca algumas declarações de Mourão, diferentes das ideias de Bolsonaro, e acrescenta: "Num governo que insiste em manter a retórica agressiva da campanha, Mourão tem se destacado como uma voz moderada. Ele reforçou essa diferença nos últimos dias, ao estrear como presidente em exercício". "O tom moderado de Mourão é uma boa surpresa", diz ainda o colunista.


A Globo e seus tentáculos tecem muitas críticas a Bolsonaro e, ao mesmo tempo, flerta com Mourão. Isso, é claro, não é um bom sinal. O general, ao que tudo indica, representa o acordo dos militares com o STF, a Globo, o mercado financeiro e a Lava Jato. Ele é o arranjo das elites reacionárias que tem a tarefa inglória de comandar as reformas econômicas, que diga-se de passagem – são impopulares, ainda que para isso precise endurecer o regime.

Um dos argumentos mais utilizados por quem defende não haver a possibilidade de golpe militar no país é de que Mourão pode ser um caminho institucional alternativo ao bolsonarismo. Este argumento, no entanto, não condiz com o atual cenário político, de grande polarização, muito menos com a história dos golpes militares na América Latina.

O general chileno Augusto Pinochet, principal liderança do golpe militar no Chile, em 1973, contra o governo de Salvador Allende, também não era considerado um general da ala mais linha dura do Exército chileno, era considerado, assim como Mourão, um "militar moderado". Vale lembrar ainda que Pinochet foi indicado pelo próprio socialista Salvador Allende. No Brasil, parte da esquerda parece apoiar Hamilton Mourão para presidente.

 
Sendo assim, os golpes militares não são conduzidos pelos generais da "linha dura" e sim pelas alas tidas como moderadas das Forças Armadas. Em um golpe militar, os militares considerados equilibrados, ou ponderados, como Mourão, são os que – normalmente – assumem a direção do golpe para controlar a situação e dar uma aparência de legalidade à ditadura.

As declarações do general Mourão, ora falando em "aproximações sucessivas", ora afirmando não haver possibilidade de golpe, nem intervenção na Venezuela, indicam esse fato. Apesar de tentar camuflar a situação, as condições para o golpe militar estão sendo postas em prática: exercícios militares em diversas cidades, leis favoráveis ao Exército e militares em cargos de direção no governo, como o novo diretor da Polícia Federal. 

Outro trecho da coluna de Mello Franco chama atenção: "deputados que foram ao Planalto nos últimos dias dizem que ele evita reclamar de Bolsonaro, mas deixa claro que se sente subutilizado". Subutilizado? Isso por a caso não lembra um vice-presidente que se dizia decorativo e, depois, capitaneou um golpe de Estado recente?

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