O futebol brasileiro precisa de um novo Béla Guttmann

Definitivamente, o futebol brasileiro chegou ao fundo do poço. Com um Campeonato Nacional deplorável e uma Seleção medíocre, o Brasil não ostenta mais o melhor futebol do mundo. O 7 x 1 sofrido contra a Alemanha e a eliminação da Seleção Brasileira de Futebol da Copa América Centenário, torneio que comemora os 100 anos da competição, não são fatos isolados e refletem, antes de tudo, a falta de organização dos dirigentes da CBF, que começa a assolar seriamente o esporte mais popular do planeta em terras brasileiras.

Considerado o país do futebol, o Brasil se notabilizou mundialmente em razão de ser a terra natal dos grandes mestres da “bola no pé”. Pelé, o melhor de todos os tempos, representava um futebol alegre, envolvente e eletrizante. Dono de uma carreira esportiva deslumbrante e um talento inconfundível, o Rei do Futebol eternizou a camisa 10, passando esta, a partir dele, a ser vestida pelo grande craque de qualquer time brasileiro e também do exterior. Garrincha tinha pernas tortas e, ainda assim, foi o mais aplaudido. Seus dribles eram desconcertantes e exaltavam freneticamente a torcida nos estádios. A seleção pentacampeã de futebol do mundo ainda contava, entre outros, com Zagallo, Tostão, Gérson, Rivelino e Zico. Jogadores pra nego nenhum botar defeito.

O futebol brasileiro começa a deslanchar com a chegada ao país de um notável cidadão húngaro na década de 1950. O nome da fera é Béla Guttmann, um técnico de futebol que dirigiu o São Paulo Futebol Clube e representou uma revolução no modo de jogar bola no Brasil. Treinador de um carisma excepcional, ele foi o grande responsável pelo chamado “futebol arte”, pondo uma condição ao clube paulista de contratar Zizinho, o “Mestre Ziza”, ídolo de Pelé, sendo campeão do Campeonato Paulista pelo time em 1957. Segundo o jornalista brasileiro Fabio Lima, Guttmann tinha uma regra peculiar como treinador, pois “nunca ficava mais de três anos numa equipe, pois considerava que este era o tempo antes de seus jogadores se desgastarem e perderem a motivação”. Foi incomensurável a influência que o gringo exerceu sobre a mentalidade futebolística nacional, em especial sobre o comandante da Seleção na Copa do Mundo de 1958, Vicente Feola, importante na conquista do primeiro título mundial dos brasileiros na Suécia.

Grande escola do futebol mundial, o Brasil não revela tantos craques do esporte como antigamente. O protagonismo do futebol brasileiro está, paulatinamente, esvaindo-se. Infelizmente, os fatores que colaboram para isso não são poucos.

Os casos recentes de corrupção no futebol são bem preocupantes. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não pode nem sair do país porque corre o risco de ser preso pelo FBI. No Brasil, o descompromisso dos dirigentes locais com o futebol e a impunidade absurda, que privilegia cartolas notavelmente corruptos, contribuem para a desmoralização acelerada da CBF, fazendo com que muitos brasileiros percam o encanto com o esporte mais popular da nação.

A corrupção é um problema estrutural no Brasil e em muitos países do mundo. Influenciado pelo status quo, o futebol não é uma exceção. Os escândalos recorrentes na esfera do esporte são um reflexo de um sistema corrompido e excludente, estabelecido para beneficiar não mais que uma oligarquia sem o menor interesse em promover o desenvolvimento nacional.

No entanto, o maior problema no futebol brasileiro é a falta de imaginação dos dirigentes. A desorganização da CBF e das federações estaduais é surpreendente, para não dizer calamitosa. Ainda que a estrutura institucional do nosso futebol deixasse muito a desejar, o talento épico dos jogadores dentro de campo foi, por um bom tempo, diferencial. Todavia, se os cartolas brasileiros continuarem a empurrar com a barriga os problemas do futebol, o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e os demais torneios futebolísticos, regionais e estaduais, tornarão competições de várzea.

O esporte popular brasileiro vive o seu pior momento. Desvairado profundamente, o futebol nacional está em pandarecos. Não se investiu como deveria em categorias de base e, tampouco, na educação dos jogadores juvenis. Não se preocupou ainda em formar, antes de um atleta profissional, um cidadão consciente e psicologicamente estruturado.

A melhor saída curto-prazista da CBF seria a contratação de algum técnico estrangeiro em destaque, proveniente de preferência da Europa, continente que joga o melhor futebol da atualidade, para dirigir a Seleção Brasileira e recuperar, assim, o protagonismo do Brasil no futebol em âmbito mundial. Esta tarefa é inadiável. O futebol brasileiro precisa de um novo Béla Guttmann.

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